terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Luzes Hipnóticas


Eu entrei antes de todo mundo, entrei com apenas uma intenção na cabeça, divertir as pessoas. Peguei minha garrafa de vodka, é ótimo, pode ser que não demorasse muito eu já estivesse completamente bêbada, mas isso não importa, eram oito horas, eu estava arrumando tudo para quando eles chegassem, o bar já estava aberto e um amigo conversava comigo sobre o que iríamos tocar hoje. O clássico, claro, o que eu sempre toco pra animar todo mundo.
Meia noite, eu vesti minha peruca feita de lã naquele dia e alguns outros acessórios, a roupa é importante quando se tem o meu trabalho, maquiagem pesada, preto, roxo e verde, adoro essas cores, blusa curta mostrando um pouco da barriga – Não me importava eu iria me divertir de mais para ligar para isso – short igualmente curto, meias “arrastão” deixando apenas as coxas a mostra e as meias bocas de sino que saiam do joelho até os pés escondendo parte dos sapatos e deixando apenas o salto a mostra. Coloquei as luvas, uma roxa e outra verde, pulseiras de Spike e vários enfeites coloridos e chamativos, o colar feito de seringas no pescoço, eu adoro coisas brilhantes e todo glitter no corpo era pouco. A mascara de gás agora eu usava no pescoço para poder conversar com as pessoas que ajeitavam minha peruca e me entregavam outra garrafa de vodka.
Dei uma boa olhada nas minhas fotos de alguns dias antes, todos me amam e eu adoro isso posso sentir o friozinho na minha barriga da minha entrada triunfal novamente. Eu escutei os tambores tocando no interior do local, está na minha hora de brilhar, levantei e corri, meu palco me espera e ainda escutei uma staff gritar “5 minutos”, ok estou no meu lugar, estou pronta.
Assim que gritaram meu nome, eu entrei, posso ouvir os assobios, palmas, gritos, estou tão feliz com isso, todos estão chamando por mim, a noite é uma criança. Ainda posso ouvir as pessoas comentando sobre mim, não sabem quanto eu bebi, não sabem o quanto eu demorei pra me aprontar, não sabem se sou homem ou mulher mas devem saber o quanto estou feliz por estar ali esta noite.
Meu rosto brilha refletido na luz negra e nas luzes coloridas daquele local, minha cabeça se move no ritmo da musica que agora eu estou controlando, eu comecei com a musica que eu mais gosto. Minha mesa agora está cheia de garrafas e minha mente completamente egocêntrica, todos estão olhando para mim e dançando completamente hipnotizados pelo ritmo que eu imponho naquele pequeno local.
Agora estou tocando uma musica diferente, eu aumentei o som no ultimo, aquele som que todos conhecem e até escuto risos quando eu deixei que tocasse, naquele local, eu sou eu mesma, não uma máscara hipócrita de todos os dias da minha vida. E realmente a musica pra mim faz sentido, mesmo que para muitos não tenha ou seja extremamente ridícula.

○ Look into my eyes
So vicious
Heels on high
So infectious
Social sickness
Glitter and kisses

I will make you mine
Malicious
Take you from behind
So vivid
The lower you fall, the higher you'll climb
Prepare the flash and let me die

Microphones and ice cream cones,
Drippin’ down my collar bones
Taste a piece of my bubble gum,
Everybody wants some. ○

Deixei que a música tocasse por si e sai de trás da mesa, todos aplaudiram e aquele ritmo ecoava no ar, doce como cada palavra dos fãs que ecoavam na minha mente, fotos, elas queriam fotos, fiz várias poses diferentes – as que eu costumava fazer – elas beijavam meu pescoço e com certeza, eu gostava disso, mas elas não eram algo que eu gostava muito de ter nos braços, elas teriam de entender isso um dia.
Corri até mesa e mudei a música. Outra música ritmada e extremamente viciosa, com um senso de malicia eu podia ouvir os gemidos ao fundo do meu DJ preferido e aquela musica me fazia querer dançar inconscientemente e foi assim que eu o fiz, movimentos sutis e extremamente provocantes aos olhos dos outros, fotos, beijos, gritos, tudo que eu amava ouvir.
Mas tudo, cansa uma hora, fugi um pouco dessa loucura de todos os dias, tentei correr para o Studio mas quando me dei conta que estava sendo abraçado, ela se colou nas minhas costas e me segurou pela cintura, me impossibilitando de sair. Minha primeira vontade foi fugir mas quando ia me virar me paralisei pelas palavras doces vindas daqueles lábios que eu sempre quis possuir, algo que me fazia perder completamente a razão e a vontade de sair daqueles braços.
“Aqui estamos novamente, isso se torna interessante visto assim não é? Ou você é apenas mais uma sombra que pensa que pode sumir quando quiser? Todos querem você mas eu sou sua dona,hn.” Era o jeito dela de dizer que eu não devia sumir e nem me mover – já sabia que era perigoso. A mão dela envolveu meu braço e me encostou na parede, os olhos percorreram minha expressão por um segundo, eu não sabia como eu devia agir diante daquilo, os lábios colaram-se na minha pele, distribuindo beijos pelo meu pescoço, incrivelmente os beijos se tornaram muito mais excitantes vindos dela, senti um dos flashes brilharem no meu rosto me cegando por alguns segundos, haviam tirado uma foto e aquela foto era sagrada para quem tirou, nunca me viram com alguém daquela maneira, a expressão de prazer estampada no rosto.
Naquele momento eu esqueci completamente do meu trabalho e do que eu estava fazendo ali, o gosto de vodka ainda estava nos meus lábios e nos lábios dela o doce sabor do cigarro, ela estava me observando a algum tempo antes de “atacar”, notei que me tornei uma presa naqueles braços que seguravam com firmeza na minha cintura, não iria me soltar mais, as musicas da minha playlist agora era controladas por outro DJ, eu já não estava mais possibilitada de me concentrar em algo alem dela. Dois minutos, eu precisei pra recuperar minha sanidade diante daquelas pequenas provocações, eu a puxei para dentro do camarim e nem me importei com alguém se tivesse visto isso, naquele momento eu só queria me concentrar naqueles lábios perfeitos e naquele corpo hipnotizante. A noite assim passou como um estalar dedos, cada toque, cada olhar é uma certeza de que aquele sim era meu paraíso.
Eram oito horas da manhã,eu estava deitada sobre o pequeno sofá daquela sala, eu sentia os machucados arderem no meu corpo e o sangue nos meus lábios, um pequeno fetiche da noite anterior. A minha staff falou comigo e eu demorei um tempo para processar as palavras, esfreguei os olhos e olhei em volta, procurei aquele sorriso adorável e os cabelos descoloridos, nada. Não era possível que fosse tudo um sonho e que eu tivesse apenas viajado no ritmo daquela musica, era normal que aparecessem cortes no meu corpo mas não poderia ser um sonho, não respondi a mulher que deve ter ficado irritada comigo, na verdade nem vi quem era, troquei de roupa e sai de lá, meu mundo, aquele inferno, ao fechar a porta eu paralisei, havia apenas um carro na frente daquele local, um carro preto e ela estava lá, encostada na lateral do carro com um cigarro entre os dedos, tragou-o e sorriu enquanto me olhava, naquele momento percebi que não era um sonho, e acordei para minha pequena realidade, tudo que eu tinha era o coração dela, a única pessoa que eu amava e eu não queria mais nada além de estar com ela a cada minuto.
- Está esperando o que? Entre, eu te levo pra casa.

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